Programa Plasticidades da Memória

Programa Plasticidades da Memória: Cinema Experimental Colombiano Recente

Curadoria_ Sebastian Wiedemann

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30/ SET | 16h30_ Cinemateca do MAM-RJ
> Sessão seguida de conversa com o curador Sebastian Wiedemann

05/OUT | 18h_ CCSP

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Nos mais diversos espectros do cinema colombiano, passando por filmes clássicos como “Agarrando pueblo” (1977), de Luis Ospina e Carlos Mayolo, ou “Rodrigo D. No futuro” (1990), de Victor Gaviria, haveria uma insistência até certo ponto eclipsante que passaria pela presença exacerbada da violência e do narcotráfico e suas consequências. Dois pontos sobre os quais estaria oscilando constantemente a história do século XX e do que vai ao século XXI do país, assim como do seu cinema. Diante de um dever de uma memória histórica e de reparação, não nos caberia dizer que as imagens de guerra e violência tem se tornado clichês. No entanto, diante do devir da história e das imagens, nos caberia re-inventar, em todo caso, um outro modo de nos relacionarmos com estas, como gesto de resistência diante de uma História em maiúscula que com frequência quer sedimentar o sentido das imagens. Problema que o cinema experimental recente do país tem encarado ao dar lugar a uma certa plasticidade da memória para além de relatos oficiais, onde a memória é material para estórias e não só prova e documento para a História. Plasticidades da memória onde as imagens de guerra, violência e narcotráfico se tornam porosas e se dispõem a compor ecologias e constelações com outros tipos de memórias e arquivos. Um devir minoritário da memória que é acolhido pelos filmes que aqui apresentamos. Neles, embora todos tenham sido realizados na última década, se abre um arco temporal entre 1929 e 2012 emaranhando memórias do país com memórias íntimas das e dos realizadores, assim como com memórias anônimas e especulativas. Diálogos entre tempos, entre o público e o privado, entre o ontem, o hoje e o que poderia acontecer ou poderia ter acontecido. Uma vontade não só por compreender a história, mas por abrir nela outras estórias. Vontade que faz destes filmes gestos intempestivos, onde a memória ganha plasticidades impensadas ao se fazer profundamente generativa experimentando e compondo relações e intervalos inadvertidos. Filmes de uma geração nascida em meio ao fervor da violência e do narcotráfico dos anos 1980 e que sabe que para resistir não basta o arquivo como documento, mas que é preciso fazer dele combustível para fazer cintilar e fulgurar imagens ainda por vir para o cinema, para sua história e a do país.

Sebastian Wiedemann
Curadoria

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ABRIR MONTE
de Maria Rojas Arias. Colômbia, 2021, 25’

Sinopse_ Em 19 de julho de 1929, em um povoado da Colômbia, um grupo de sapateiros lutou para melhorar as condições de vida e de trabalho no país. Chamavam-se a si próprios de “Los Bolcheviques del Líbano, Tolima”. Sua revolução durou apenas um dia, e os seus vestígios foram quase completamente apagados. As mulheres desta aldeia partilham com Aura, uma avó anarquista, o sentimento de que a sua rebelião ainda está em curso.

Equipe_ Direção, Roteiro e Direção de Arte: Maria Rojas Arias | Fotografia e Montagem: Maria Rojas Arias e Andrés Jurado | Desenho de Som: Julian Galay | Música: Sara Fernández e Lucrecia Dalt | Elenco: Adelaida Arias, Matilde Fajardo, Laurentina Fajardo, Pedro Narváez, Marco Fajardo, Henry Muñoz e Ovidio Fajardo

Sobre x artista_ María Rojas Arias (Colômbia, 1994) é uma artista visual e cineasta colombiana, formada pela KASK – School of Arts Gent, Bélgica. É codiretora do coletivo La Vulcanizadora – Laboratório de Projetos em Artes Visuais, Cinema e Teatro Expandido. Suas obras trabalham com materiais de arquivo oficiais e não oficiais relacionados a acontecimentos específicos do passado. Seus curtas-metragens incluem “Abrir Monte” (2021), “Fu” (2018) e “La Casa Loca” (2016). Em 2019, recebeu a bolsa Next Generation do Fundo Prince Claus para Cultura e Desenvolvimento.

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EL RENACER DEL CARARE
de Andrés Jurado. Colômbia, 2020, 20’

Sinopse_ El Renacer del Carare é um roteiro de 19 páginas para um diaporama realizado por volta de 1987 pela Associação dos Trabalhadores Rurais de Carare (ATCC) e pela CELA Productions. O seu objectivo fundamental era tornar-se um manifesto audiovisual que permitisse à organização expor as motivações da sua formação, os desafios e propósitos do seu projecto de vida, o seu futuro e as estratégias de ação coletiva levadas a cabo até 1987. No entanto, o projeto parece ter ficado inacabado. Não há cópia dos slides ou vestígios da fita cassete no arquivo preservado pela ATCC, e há pouca ou nenhuma memória do projeto entre os membros da Associação. Este filme retoma o guião técnico e dá-lhe vida através de um filme em 16mm, num gesto de recomposição e extensão deste processo de memória histórica.

Equipe_ Direção: Andrés Jurado | Produção: La Vulcanizadora | Produtora: Maria Rojas Arias

Sobre x artista_ Andrés Jurado (Colômbia, 1980) é um artista, cineasta, investigador e produtor cujo trabalho explora as interseções entre cinema experimental e cinema expandido, arquivos, contra-arquivo, arte contemporânea, propaganda, mosquitos, extraterrestres, a corrida espacial, e as suas incidências na construção de narrativas e políticas contemporâneas. Os seus trabalhos foram apresentados no Docs Buenos Aires, MIDBO Bogotá International Documentary Festival, e EMAF, entre outros. É cofundador e codiretor do coletivo La Vulcanizadora – Laboratório de Projetos em Artes Visuais, Cinema e Teatro Expandido. O seu filme “El Renacer del Carare” recebeu uma Menção Especial da Competição Flash no 31º FIDMarseille 2020 e o Prémio do Público do Panorama de Cinema Colombiano em Paris em 2021. Fez parte da equipe Forensic Architectures numa investigação sobre expropriação de terras, desaparecimento e desflorestação na Colômbia. Seu último curta-metragem “Yarokamena” estreou na Berlinale 72, na secção Forum Expanded.

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EL LABERINTO
de Laura Huertas Millán. Colômbia, 2018, 21’

Sinopse_ Uma viagem pelas memórias labirínticas de um homem envolvido na espetacular ascensão e queda dos Senhores de drogas na Amazônia colombiana. Vagando pela floresta e por uma mansão em ruínas (réplica da masão do programa de televisão “Dinasty”), esse homem logo se tornará protagonista de seu próprio relato alucinatório.

Equipe_ Direção, Produção, Imagens, Captação e Edição de Som: Laura Huertas Millán | Elenco: Cristobal Gomez | Mixagem: Olivier Guillaume e Guillaume Couturier | Correção de Cor: Evy Roselet

Sobre x artista_ Laura Huertas Millan é uma cineasta e artista visual franco-colombiana, cuja prática se situa na intersecção entre o cinema, a arte contemporânea e a pesquisa. Selecionados em festivais de cinema como a Berlinale, Toronto International Film Festival (TIFF), Rotterdam International Film Festival, New York Film Festival e Cinéma du Réel, seus filmes foram premiados no Locarno Film Festival, FIDMarseille, Doclisboa e Videobrasil, entre outros. Mais de vinte retrospectivas de seu trabalho foram organizadas em todo o mundo, em cinematecas como o TIFF Lightbox de Toronto, o Film Archive de Harvard e a Cinemateca de Bogotá, e em festivais de cinema importantes como Mar del Plata e Rencontres du Documentaire de Montreal.

No campo artístico, suas últimas exposições individuais foram realizadas no MASP São Paulo, na Maison des Arts de Malakoff e no Museu de Arte Moderna de Medellín. Seus filmes também foram expostos e exibidos em instituições de arte (Centre Pompidou Paris, Jeu de Paume, Guggenheim Museum NY, Times Art Berlin) e em bienais (Liverpool, FRONT Triennial, Videobrasil, Videonnale). Suas obras fazem parte de coleções privadas e públicas (Kadist, CNAP, Banco de la República de Colombia, CIFO, FRAC Lorraine, entre outras).

Laura Huertas Millan possui um doutorado prático em “Ficções Etnográficas” desenvolvido entre a PSL University (programa SACRe) e o Sensory Ethnography Lab (Harvard University). Atua como educadora em espaços acadêmicos e alternativos. Ela faz parte do coletivo artístico, de pesquisa e curadoria Counter-Encounters (com Onyeka Igwe e Rachael Rakes) sobre antropologia crítica e estética e a política do encontro.

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84
de Daniel Cortés. Colômbia, 2020, 13’

Sinopse_ Hoje na Colômbia, o último acordo de paz se esfacela e a violência toma conta do país. Dois filmes rodados em 1984, perdidos há mais de 30 anos, vêm à luz juntos. “84” arrasta o espectador entre ficção e documentário por meio desses rolos de filme amaldiçoados, em um país dividido entre cidade e campo, condenado por presságios obscuros de repetição e morte.

Equipe_ Direção: Daniel Santiago Cortés | Produção: José Manuel Duque López | Som: Daniel Giraldo | Montagem: Juan Cañola | Música: Alejandro Bernal | Distribuição: Germán García

Sobre x artista_ Daniel Cortés é realizador e profesor de cinema documentário, Dirigiu os curtas-metragens “Elan” (2014), “Memorias” (2016) e “84” (2020) e é produtor asociado do longa-metragem “Las razones del lobo” (2020). Seu trabalho se concentra na experimentação com imagens de arquivo em torno das noções de história e memória na Colômbia, questionando verdades oficiais contra narrativas ocultas.

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OLSO
de Juan Soto. Colômbia, 2012, 19’

Sinopse_ Bogotá, 2007: O presidente dos Estados Unidos visita Bogotá, Colômbia.

La Uribe, 1986: Os Acordos de La Uribe (Acuerdos de la Uribe), assinados entre as FARC e o presidente Belisario Betancourt, pede um cessar-fogo.

Girardot, 1997: Aprendi a pular de cabeça e minha mãe está filmando com uma câmera Hi8.

Bogotá, 2006: Vou filmar outra manifestação estudantil contra Álvaro Uribe.

Oslo, 2012: …

Equipe_ Realização e Montagem: Juan Soto Taborda

Sobre x artista_ Juan Soto (Colômbia, 1983) possui mestrado em Realização Documental pela Escola Internacional de Cinema e Televisão – EICTV em Cuba. Depois de se formar em 2010, sua prática se concentrou em edição e arquivo fílmico. Juan trabalhou com cineastas como Phillip Warnell, Mo Scarpelli, Ana Salas, Natalia Santa e Armando Capó, e com artistas como John Akomfrah, Gideon Mendel e Juan delGado, entre outros. Foi montador de ficções e documentários, bem como de filmes experimentais, na América Latina e na Europa, onde atualmente reside. Em 2018, Juan foi selecionado para participar da FIAFF Film Restoration Summer School no L’Imagine Ritrovata em Bolonha e em 2019 foi Preservador e Restaurador de Filmes Residente no Centre de Conservació i Restauració, da Filmoteca de Catalunya. Atualmente trabalha como Gerente de Projetos de Preservação de Filmes na Filmoteca de Catalunya em colaboração com a Escola Superior de Cinema i Audiovisuals de Catalunya (ESCAC) em um projeto com curadoria de Ferran Alberich.