Programa Novas formas dos noturnos

Programa Novas formas dos noturnos

Curadoria_ Mónica Delgado

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28/ SET | 19h10_ Cinemateca do MAM-RJ
> Sessão seguida de conversa com a curadora Mónica Delgado

07/OUT | 16h_ CCSP

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Aqui não há espectros.

Em meio a esses noturnos há corpos em oscilação, em buscas, em jornadas, em trânsito, explorando seus ambientes. Em seu Dicionário de símbolos, Alain Gheerbrant e Jean Chevalier defendem que a noite é o inicio dos dias, e é também “o tempo das gestações, das germinações ou das conspirações que vão irromper em pleno dia como manifestações de vida”. Ao mesmo tempo, é o terreno do incerto, do onírico, do escuro e do silencioso. E este ambiente abriga seres e formas noturnos, que se movem num regime liberto, fértil, sem limites, livre para a imaginação. Noites que precisam de barulho e luz. Por isso, essa seleção de obras de cineastas da Argentina, Chile, México, Peru e Venezuela se propõe como uma porta, como um início de diversas jornadas, como capítulos, como primeiros versos, como atmosferas que não exigem o onírico como um absoluto para para se referir ao sonho (redundâncias à parte). Aqui o sonho é uma floresta, é matéria, é ritmo, que conecta os personagens em seus passeios, em suas formas alucinatórias, como janelas que separam o mundo exterior do olhar interior.

Há alguns versos do poeta peruano Jorge Eduardo Eielson que afirmam que “A luz que é só luz / Quando ilumina uma coisa / Não é luz verdadeira”. Na seleção de curtas-metragem latino- americanos escolhidos para este programa, não há, no meio deste estado meio entorpecido, uma luz que seja só luz: há espasmos, memórias entrelaçadas, cidades e florestas transformadas, fotogramas que emergem como filhos da própria escuridão, e que nascem de flashes e ritmos que sentimos. Assim, através desta seleção propõe-se um percurso que vai desde o encerramento do dia numa abstração cotidiana, até um clímax físico como forma de inicio e fim.

Mónica Delgado
Curadora

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LÁ COM GUIRLANDAS FANTÁSTICAS ELA VEIO
(ALLÍ CON GUIRNALDAS FANTÁSTICAS VINO ELLA)
de Sofía Peypoch. México, 2022, 24’

Sinopse_ O olho é testemunha dos espaços que se constroem sobre os contornos da sombra. Espectros que transfiguram a memória irradiam da noite. A lembrança das pálpebras fechadas.

Sobre x artista_ Sofía Peypoch (México) é uma artista visual que combina filme, fotografia, escultura em cerâmica e found objects em seu trabalho. No centro da sua prática está a experiência sensual, expressa através da observação da natureza, traçando paralelos entre o corpo e a mata. A sua prática reside no interstício da memória pessoal e do pensamento coletivo, concebendo a memória como um espaço tangível onde o seu significado não está em recordar, mas sim em ser testemunha da experiência do presente como uma teia perpétua de ocorrências em constante transformação.

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MORFOLOGÍA DE UM SONHO (MORFOLOGÍA DE UN SUEÑO)
de Malena Szlam. Chile/Canadá, 2015-2018, 5’30’’

Sinopse_ “Morfologia de um sonho” é um estudo visual dos ritmos dos ciclos do sono durante a fase de movimento rápido dos olhos. Filmado nas florestas do Colorado e Quebec, este curta-metragem explora um mundo onírico que expressa lugar e memória em uma sucessão fugaz de cores e sensações que pairam entre o mundo “real” e o abstrato.

Sobre x artista_ Malena Szlam (Chile) é uma cineasta artista radicada em Tiohtià:ke/Montreal. Seus filmes, performances e instalações examinam as relações entre prática cinematográfica, corporeidade, temporalidade e percepção. Envolvendo as dimensões afetivas dos processos analógicos, o trabalho de Szlam dá forma material às aproximações cinéticas e líricas do mundo natural. Seu trabalho tem sido exibido em festivais importantes, incluindo a mostra Wavelengths do Toronto International Film Festival, o Toronto International Film Festival, o Media City Film Festival, o International Film Festival Rotterdam, o Edinburgh International Festival e o CPH:DOX.

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ENQUANTO ESPERO (MIENTRAS ESPERO)
de Nicole Remy. Peru, 2020, 5’47’’

Sinopse_ Através de vídeos de arquivo gravados com câmeras noturnas, buscamos adentrar em um corpo estranho e vivenciar sua jornada entre a espera e a abdução.

Sobre x artista_ Nicole Remy estudou Comunicação Audiovisual (Universidade de Lima – 2015) e prosseguiu com mestrado em Direção de Arte (ESCAC – 2016). Em 2018 ingressou na Taller Helios (Lima), onde trabalhou com material de arquivo cinematográfico e técnicas de cinema analógico e fotografia. Nesse mesmo ano desenvolveu seu primeiro filme “Detenerte en el pulso” a partir de filmes familiares gravados em super8 e VHS. Atualmente faz mestrado em Criação e Prática Contemporânea Audiovisual (LAV, Madrid) no qual se inclina para o cinema estrutural, trabalhando com as limitações, e portanto possibilidades, da câmera cinematográfica.

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INSÔNIA (INSOMNIA)
de Ernesto Bacca. Argentina, 2016, 5’36’’

Sinopse_ No meio da noite, um turbilhão de imagens sacode a mente de uma mulher, sobrepostas a ela mesma.

Sobre x artista_ Ernesto Baca é um artista audiovisual que atua na área de experimentação cinematográfica, intervindo em rolos de 16 mm e filmando em Super 8. Foi iniciado pelo artista argentino Claudio Caldini, precursor do cinema experimental na Argentina. Ernesto Baca filmou inúmeros curtas-metragens experimentais, entre eles “Ratna Mala”, “Las sonambulas”, “Superflumina Babylon”. Em “Insônia” ele quebra a percepção usual da imagem gerando uma cadeia de formas e cores mais da lógica do inconsciente. A sua obra dialoga com uma filosofia oriental, recorrendo a temas ou músicas da filosofia hindu.

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CHANCES DE LUZ
de Valentina Alvarado Matos.
Venezuela/Espanha, 2018, 8’

Sinopse_ Encontrando e capturando momentos de luzes e sombras durante apagões elétricos decorrentes da atual situação política venezuelana.

Sobre x artista_ Valentina Alvarado Matos é formada em Design Gráfico pela Universidade de Zulia (Venezuela), onde foi professora na Faculdade de Artes Experimentais. Em 2014 concluiu o mestrado em Criação Artística Contemporânea na Universidade de Barcelona e o Ciclo de Cerâmica na Scola L´Industrial. Suas obras foram expostas na Microscope Gallery, LA Film Forum, Salzburger Kunstverein, CCCB, La Casa Encendida, entre outras. Atualmente vive e trabalha em Barcelona onde é artista residente no Hangar.

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REFLEXÃO NOTURNA IV (REFLEJO NOCTURNO IV)
de Benjamin Ellenberger. Argentina, 2020, 5’

Sinopse_ Uma série de curtas-metragens sobre como a noite nos imerge num mundo no qual emergem os pensamentos mais profundos. Fotografado quadro a quadro com longos tempos de exposição e revelado manualmente antes do amanhecer. Os espaços à noite transformam-se e os lugares íntimos são muitas vezes encriptografados e depois abrem-se, e uma série de imagens estáticas avançam para deixar o tempo para trás, como aqueles sonhos dos quais não queremos recordar.

Sobre x artista_ Benjamin Ellenberger nasceu em Córdoba, Argentina. É cineasta, editor e fotógrafo. Estudou cinema na Universidade Nacional de Córdoba e Artes Audiovisuais na Universidade Nacional das Artes. Seu trabalho inclui cinema expandido e filmes em Super8, 16mm e vídeo. Suas obras foram exibidas no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (Argentina), no Museo de Arte Experimental ECO (México), no Festival Internacional de Mar del Plata (Argentina), FAMU Praga (República Tcheca), Festival 25FPS (Croácia), entre outros. Atualmente ministra oficinas de material de arquivo e experimentações com formatos fílmicos em diversas instituições e festivais.

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VOCÊ REPETE PARA SI MESMO COM A FORÇA DE UM TROVÃO
(LO REPETÍS HACIA ADENTRO CON LA FUERZA DE UN TRUENO)
de Luciana Foglio e Luján Montes. Argentina, 2019, 12’’

Sinopse_ “A sensibilidade permite que o ser humano se una e se conecte por meio de relações de simpatia, como uma fina camada que percebe e decodifica impressões não-verbais; em outras palavras, permite que retornem a um estado inespecífico e não codificado em que os corpos vibram em uníssono.”

Bifo. Fragmento de “Fenomenología del fin”.

Sobre x artista_ Luciana Foglio é cineasta e designer de som. Em 2018, co-dirigiu e desenhou a sonoridade do filme “El ruido son las casas”, que estreou no BAFICI e FIDMarseille, onde obteve menção honrosa. Em 2023, finalizou seu segundo longa-metragem documentário “Algunas notas sobre MMM”. Ao longo dos anos, filmou diversos curtas-metragens, principalmente em formato Super-8. Eles foram exibidos em festivais nacionais e internacionais como o Festival de Cinema de Mar del Plata e em plataformas de streaming como MUBI.

Luján Montes é cineasta e fotógrafa. Seu trabalho explora os limites entre o documentário e o cinema experimental. Co-dirigiu os filmes independentes e coletivos: “Impreso en Chilavert: Experiencia filmada” (2006) e “String Theory” (2011). Também dirigiu diversos curtas-metragens nos formatos super8 e 8mm. Seus trabalhos foram exibidos em diversos festivais de cinema nacionais e internacionais, como BAFICI (Argentina), Rencontres Internationales Paris/Berlin (França) e The Filmmaker’s Coop (EUA). Em 2018, co-dirigiu o filme “El ruido son las casas” que estreou no BAFICI e FIDMarseille, onde obteve menção honrosa. Seu segundo documentário é “Algunas notas sobre MMM” (2023). Ambos os filmes foram apoiados pelo Instituto Argentino de Cinema (INCAA).