VI Dobra

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Ninguém É Cidadão

NOBODY IS A CITIZEN

79 min

Empire

de Edouard Salier. França, 2005, 4'

Grève sauvage (la genèse)

de Chaab Mahmoud. França, 2009, 12’21

The Devil

de Jean-Gabriel Périot. França, 2012, 7'

de Cecilia Bengolea. Argentina, 2018, 6’

Où en êtes-vous, Teresa Villaverde?

de Teresa Villaverde. França-Portugal, 2019, 17’

de Carlos Adriano. Brasil, 2020, 13’30

Avant l'effondrement du Mont Blanc

de Jacques Perconte. França, 2020, 16’

CURADORIA | CURATORSHIP

Nicole Brenez

“O açúcar da palavra Brasil no fundo do pântano.”
Aimé Césaire, Les Armes miraculeuses, 1946.

Ninguém é cidadão, canta Caetano Veloso em “Haiti” (1993), citado por Carlos Adriano em seu polêmico e documentado poema O que há em ti. Sim, o que temos nós em nós, quando nos encontramos, contra a nossa vontade, mergulhados no desastre? Quais recursos existem, no fundo de nossa indigência? Cada um à sua maneira, os filmes desse programa respondem explorando uma dimensão da energia: a ironia (Jean-Gabriel Périot), a razão (Chaab Mahmoud), a beleza natural (Jacques Perconte) e mesmo a alegria, individual (Cecilia Bengolea) ou coletiva (Teresa Villaverde), tais são as “armas miraculosas” dos desprovidos, em um tempo no qual as catástrofes se multiplicam. Quer elas sejam políticas, climáticas, sanitárias, quer elas revelem a exploração ou a opressão tragicamente ordinárias, o genocídio ou o ecocídio, quer elas se reproduzam na América do Sul ou do Norte, nos Alpes ou em todos os lugares simultaneamente… Todas elas parecem confrontar a violência a partir de um princípio comum que os Latinos nomearam como invidia, a ganância, o desejo insaciável de posse à custa dos outros, que não tem nada a ver com necessidades reais, culminando no capitalismo consumista apoiado no “complexo militar-industrial”, tão eficazmente destrinchado em alguns pontos por Edouard Salier. Diante da invidia letal capaz de tudo destruir, até que não reste nada além dela mesma, os humanos aqui contrapõem outras potências: o altruísmo, a empatia, o senso coletivo, a defesa dos mais fracos, a comunhão com os elementos naturais ou outros seres, a coragem e – recurso particularmente em baixa em nossos dias – o raciocínio crítico. Esses valores são trabalhados nos filmes aqui propostos, graças aos quais podemos também constatar que, até na mais sombria adversidade, com meios muito simples, os artistas sabem manifestar uma audácia e uma virtuosidade formal admiráveis, levando ao extremo a energia plástica própria ao ser vivo: a criatividade. Todos cidadãos de um campo sem fronteiras espaciais nem temporais, onde para se entrar não é necessário nenhum passaporte, nem dinheiro, nem poder: aquele da batalha sem fim contra as injustiças.

Agradeço ao DOBRA por sua confiança e sua coragem exemplares.

“Le sucre du mot Brésil au fond du marécage.”
Aimé Césaire, Les Armes miraculeuses, 1946.

Ninguém é cidadão, chante Caetano Veloso dans « Haiti » (1993), que cite Carlos Adriano dans son poème documenté et polémique O que há em ti. Oui, qu’avons-nous en nous, lorsque nous nous trouvons, bien malgré nous, plongés dans le désastre ? Quelles ressources, au fond de notre détresse ? Chacun à leur manière, les films de ce programme répondent en explorant une dimension de l’énergie : l’ironie (Jean-Gabriel Périot), la raison (Chaab Mahmoud), la beauté naturelle (Jacques Perconte) et même la joie, singulière (Cecilia Bengolea) ou collective (Teresa Villaverde), telles sont les « armes miraculeuses » des démunis, en un temps où les catastrophes se multiplient. Que celles-ci soient politiques, climatiques, sanitaires, qu’elles relèvent de l’exploitation ou de l’oppression tragiquement ordinaires, du génocide ou de l’écocide, qu’elles se produisent en Amérique du Sud ou du Nord, dans les Alpes ou partout simultanément… elles semblent bien toutes affronter la violence d’un principe commun que les Latins avaient nommé l’invidia, l’avidité, le désir insatiable de possession aux dépens d’autrui, qui n’a rien à voir avec des besoins réels, qui culmine avec le capitalisme consumériste appuyé sur ce « complexe militaro-industriel » si efficacement brossé en quelques traits par Edouard Salier. Face à l’invidia létale capable de tout détruire jusqu’à ce qu’il ne reste rien qu’elle-même, les humains ici opposent d’autres puissances : l’altruisme, l’empathie, le sens du collectif, la défenses des plus faibles, la communion avec les éléments naturels ou avec d’autres êtres, le courage et — ressource particulièrement mise à mal de nos jours – le raisonnement critique. Ces valeurs sont mises en œuvre dans les films ici proposés, grâce auxquels on peut constater aussi que, jusque dans la plus sombre adversité, avec des moyens très simples, les artistes savent faire preuve d’une audace et d’une virtuosité formelle admirables, portant à son comble l’énergie plastique propre au vivant : la créativité. Tous citoyens d’un champ sans frontières spatiales ni temporelles, où l’on n’a besoin pour entrer d’aucun passeport, ni argent, ni pouvoir : celui de la bataille sans fin contre les injustices.

Merci à DOBRA pour sa confiance et son courage exemplaires.

“The sugar of the word Brazil at the bottom of the swamp.”
Aimé Césaire, Les Armes miraculeuses, 1946.

Nobody is a citizen, sings Caetano Veloso in «Haiti» (1993), quoted by Carlos Adriano in his documented and polemical poem O que há em ti. Yes, what do we have in us, when we find each other, against our will, submerged in this disaster? With what resources, at the bottom of our distress? The films in this program, each in their own way, answer to these questions, exploring a dimension of the energy: the irony (Jean-Gabriel Périot), the reasoning (Chaab Mahmoud), the natural beauty (Jacques Perconte) and even the joy, individual (Cecilia Bengolea) or collective (Teresa Vilaverde). These are the «miraculous weapons» of the disadvantaged, in a time where the catastrophes multiply. Be it political, climatic, sanitary, be it revealing of the tragically ordinary exploration or the oppression, the genocide or the ecocide, be it that they are reproduced in South or North America, the Alps, or everywhere simultaneously… All of them seem to confront the violence of a common principle that Latins have named invidia, the greed, the insatiable desire for possession at the expense of others, that has nothing to do with real necessities, which culminates in the consumerist capitalism supported by the «military-industrial complex» so effectively and thoroughly analyzed in some aspects by Edouard Salier. Before the lethal invidia capable of destroying everything until nothing else is left but itself, the humans here oppose other potencies: the altruism, the empathy, the collective sense, the defense of the weak, the communion with the natural elements or with other beings, the courage and – a particularly downward resource these days – the critical thinking. These values are at work in the films here proposed, thanks to which we can also determine that, even in the darkest adversity, with very simple means, the artists can manifest an audacity and an admirable formal virtuosity, taking to the extreme the plastic energy that specifies the living beings: the creativity. They are, we are citizen of a field without spacial or temporal borders, where no passport, nor money, nor power are required to enter: the one of the endless battle against injustice.

Thank you DOBRA for your trust and exemplary courage.

Nicole Brenez

IMPÉRIO
EMPIRE
de Edouard Salier. França, 2005, 4′

Sinopse | Synopsis
A Pax Americana cuida da nossa tranquilidade, assegura nosso conforto, garante nossa prosperidade… Um cartão postal idílico do novo Império.
The Pax Americana takes care on our peace, ensures our comfort, guarantees our prosperity… An idyllic postcard of the new Empire.

Equipe | Crew
Direção, Roteiro, Montagem | Direction, Screenplay, Film Editing: Edouard Salier
Produção Executiva | Executive Production: Edouard Salier, Nicolas Schmerkin
Animação 3D | Animation 3D: Spawn
Design de Som | Sound Design: David Coutures
Música | Music: Doctor L Empresa
Produtora | Production Company: Autour de Minuit Productions

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GREVE SELVAGEM (A GÊNESE)
GRÈVE SAUVAGE (LA GENÈSE)
de Chaab Mahmoud. França, 2009, 12’21

Sinopse | Synopsis
« Quanto mais eu lia o livro ‘Da greve selvagem à autogestão generalizada’ de Raoul Vaneigem, mais as imagens rolavam. Ao final do texto, disse a mim mesmo que aquilo que ele havia escrito em 1974 não perdera nada de seu realismo. A força das palavras. A impressão é de que é exatamente isso que está acontecendo hoje. Então, eu só pude encontrar Raoul e propor a ele de fazermos um filme.
» Chaab Mahmoud « The more I read Raoul Vaneigem’s ‘From Wildcat Strike to Total Self Management’, the more the images unfold. At the end of the text, I told myself that what he had written in 1974 had lost none of its realism. The power of words. The impression that this is exactly what is happening today. So I could only meet Raoul and offer him to make a film together. » Chaab Mahmoud

Equipe | Crew
Direção | Direction: Chaab Mahmoud
Assistente de Direção | Direction Assistant: Zakaria Mahmoud

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O DIABO
THE DEVIL
de Jean-Gabriel Périot. França, 2012, 7′

Sinopse | Synopsis
Você não sabe quem somos…
You don’t know who we are …

Equipe | Crew
Direção | Direction: Jean-Gabriel Périot
Som | Sound : Xavier Thibault
Música | Music: Boogers

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LIGHTING DANCE
de Cecilia Bengolea. Argentina, 2018, 6’

Sinopse | Synopsis
Lighting Dance investiga a influência de uma tempestade elétrica na imaginação corporal. Apresenta Craig Black Eagle, Oshane Overload-Skankaz e seus respectivos grupos, na companhia da realizadora, executando coreografias solo e em grupo enquanto chove forte. Conforme os dançarinos vão para a rua, seus movimentos remetem ao popular dancehall jamaicano, um estilo de dança altamente sexualizado, que Cecilia Bengolea vê como imbuído de poderes mágicos de cura.
Lightning Dance investigates the influence of a electric storm on bodily imagination. It features Craig Black Eagle, Oshane Overload-Skankaz and their respective teams, in company of the artist, perform solo and group dance routines while heavy rain falls. As the dancers take street, their movements refer to popular Jamaican dancehall, a highly sexualized dance style, which Cecilia Bengolea sees as infused with magical healing powers.

Equipe | Crew
Direção | Direction: Cecilia Bengolea

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ONDE VOCÊ ESTÁ, TERESA VILLAVERDE?
OÙ EN ÊTES-VOUS, TERESA VILLAVERDE?
de Teresa Villaverde. França-Portugal, 2019, 17’

Sinopse | Synopsis
No Rio de Janeiro, moradores do bairro da Mangueira acompanham a transmissão de televisão em uma tela enquanto os jurados votam em cada escola de samba. Em 2019, a Mangueira levou para o Sambódromo um forte e ousado samba de resistência a respeito do que está acontecendo no Brasil neste momento. O filme testemunha a tensão na espera pelo placar final e a grande alegria de pessoas de todas as gerações quando a Mangueira vence e se torna campeã do Carnaval 2019.
In Rio de Janeiro, people from the Mangueira neighbourhood follow the television broadcast on a big screen as the juries vote on each samba school. In 2019, Mangueira took to the Sambadrome a strong, bold samba of resistance to what’s taking place in Brazil right now. The film witnesses the tension while waiting for the final score, and the great joy of people from every generation when Mangueira wins and becomes champion of the 2019 Carnival.

Equipe | Crew
Direção, Fotografia | Direction, Cinematography: Teresa Villaverde
Som | Sound: Vasco Pimentel, Hugo Leitão, Marcelo Tavares
Montagem | Film Editing: Clara Jost
Produção | Production: Teresa Villaverde | Alce Filmes, Sylvie Pras, Amélie Galli, Catherine Quiriet | Centre Pompidou – Département du Développement Culturel

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O QUE HÁ EM TI (BRAZIL IS THEE HAITI IS (T)HERE)
de Carlos Adriano. Brasil, 2020, 16’29

Sinopse | Synopsis
Em 16 de março de 2020, em Brasília, um haitiano anônimo e desconhecido desafiou o chefe da nação: “Bolsonaro, acabou. Você não é presidente mais.” Este cinepoema contrapõe tal situação a duas operações militares da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), comandada pelo Brasil, em 6 de julho de 2005 e 22 de dezembro de 2006, em Cité Soleil.
On March 16, 2020, in Brasília, an anonymous and unknown Haitian challenged the head of the nation: “Bolsonaro, it’s over. You are not president anymore.” This film poem counterpoints this situation with two military operations of Minustah (United Nations Stabilization Mission in Haiti), commanded by Brazil, on july 6, 2005, and december 22, 2006, in Cité Soleil.

Equipe | Crew
Direção, Fotografia, Montagem, Desenho de Som, Mixagem, Produção | Direction, Cinematography, Film Editing, Sound Design, Mixing, Production: Carlos Adriano
Música | Music: Caetano Veloso e Gilberto Gil

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ANTES DO COLAPSO DO MONT BLANC
AVANT L’EFFONDREMENT DU MONT BLANC
de Jacques Perconte. França, 2020, 16’

Sinopse | Synopsis
Montanhas estão caindo e não há nada que possamos fazer a respeito. E mesmo que tenhamos os meios necessários para escalá-las e superar aqueles picos inacessíveis nos quais muitos exploradores perderam suas vidas em busca do privilégio de superá-los, as montanhas continuarão a cair à medida que continuemos a escalá-las.
Mountains are falling, and there’s nothing we can do about it. And even if we have the means to climb them and overcome those inaccessible peaks in which many explorers have lost their lives in search of the privilege to overcome them, the mountains will continue to fall as we continue to climb them.

Equipe | Crew
Direção | Direction: Jacques Perconte

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O EXTERIOR
L’OUTREMER
de Florian Maricourt. França, 2019, 6’51’’

Sinopse | Synopsis
« O Exterior » é outro poema filmado em um celular. É diurno, litorâneo, avança nas pedras, em frente ao mar, machuca os olhos, é tudo o sol, tudo em ondas, tudo em areia.
« L’outremer » is another poem filmed on the phone. It is diurnal, coastal, it advances on the rocks, in front of the sea, it hurts the eyes, it is all the sun, all in waves, all in sand.

Equipe | Crew
Direção, Fotografia, Montagem, Desenho de Som, Produção | Direction, Cinematography, Film Editing, Sound Design, Production: Florian Maricourt
Som, Trilha Sonora Original | Sound, Original Soundtrack: Florian Maricourt, Gabriel Bristow

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OI, BONITA
HELLO, BEAUTY
de Nikki Milan Houston. Estados Unidos, 2020, 6’05’’

Sinopse | Synopsis
Voltei para a cidade que achei que conhecia – Los Angeles. Meu único salvador acabou sendo um gravador de áudio. Clique. Comece. Brilho de luz vermelha. Usando pontas curtas de 16mm, saí com meu DP enquanto as ruas estavam vazias e, durante cinco dias, tentei capturar a beleza solitária. Por sua vez, eu me encontrei. Aqui está minha carta de amor para o lugar que aparentemente eu não consigo abalar.
I came back to the city I thought I knew — Los Angeles. My only savior became a tape recorder. Click. Start. Red light glow. Using short ends of 16mm, I went out with my DP while the streets were empty, and tried to capture the lonely beauty in five days time. In turn, I found myself. Here is my love letter to the place I can’t seem to shake.

Equipe | Crew
Direção, Som, Montagem, Design de Som, Produção | Direction, Sound, Film Editing, Sound Design, Production: Nikki Milan Houston
Fotografia | Cinematography: Andrea Calvetti

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RECOMPENSA
BOUNTY
de Juana Robles. Suíça / Irlanda, 2020, 8’54’’

Sinopse | Synopsis
Encontrando um velho amigo em Berne, Suíça, para uma caça às luzes e alegrias das noites do final do verão há muito passadas.
Catching up with an old friend in Berne, Switzerland for a hunt on the lights and enjoyments of long past late summer nights.

Equipe | Crew
Realizado e produzido por | Directed and produced by Juana Robles.

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